ARTIGO=MÚSICA ILUSÃO E A REALIDADE
A Percepção e a Natureza do Som Musical
Apesar de o som estar em toda parte, não o compreendemos completamente. Conhecemos apenas os efeitos que ele produz. Através da voz ou de instrumentos, conseguimos produzir sons controlados que, quando organizados, se transformam em música. Da mesma forma, não conhecemos a verdade absoluta sobre nada, e isso se aplica também à música.
Para que as palavras sejam compreendidas, o som percorre uma jornada complexa pelo ouvido, que é o nosso órgão da audição. Durante esse trajeto, o som muda de "condução" várias vezes.
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No ouvido externo: O som viaja pelo ar.
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No ouvido médio: As vibrações sonoras fazem os três pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo) tremerem.
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No ouvido interno: As ondas sonoras se propagam em um ambiente líquido, entrando na cóclea, uma estrutura em forma de caracol. Lá, o som se converte em sinais elétricos que são enviados para o cérebro através do nervo auditivo.
A partir desse ponto, o cérebro recebe uma informação incompleta, sem distinguir a fonte do barulho (se é uma voz, vento, máquina, etc.). O resultado final que percebemos é uma imagem mental do mundo físico, criada a partir de uma longa cadeia de eventos mentais.
Processamento Cerebral e Ilusões Auditivas
A percepção auditiva é um processo de inferência, no qual o cérebro faz um "cálculo estimado" do que realmente está acontecendo. Esse processo envolve duas etapas principais:
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Extração de características: O cérebro, por meio de redes neurais especializadas, decompõe o som em elementos básicos, como altura, timbre, localização e intensidade.
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Integração de informações: As partes superiores do cérebro integram essas características para criar uma percepção completa.
O cérebro enfrenta desafios nessas etapas, pois a informação sonora é frequentemente indiferenciada, ambígua (sons diferentes podem gerar padrões similares no tímpano) e incompleta.
A Música como Ilusão Perceptiva
A maioria das pessoas acredita que o mundo é exatamente como elas o percebem, mas experimentos mostram que essa visão é simplista. A música, em particular, é um exemplo fascinante de como nosso cérebro impõe estrutura e ordem a uma sequência de sons para criar algo que chamamos de melodia.
Quando tocamos uma nota musical em um acordeão, por exemplo, temos a impressão de ouvir um único som, mas isso é uma ilusão auditiva. Na verdade, uma nota musical é composta por vários sons secundários, chamados harmônicos, que interagem com o som principal.
Outra ilusão acontece com os tempos musicais. Nossos tempos de reação (visuais, auditivos e táteis) são diferentes. O cérebro leva tempo para decodificar e processar a informação, e isso faz com que a execução de uma nota de um tempo exato seja, na realidade, um valor ligeiramente menor. A música, portanto, não é uma representação perfeita do som, mas uma complexa e bela interpretação feita pelo nosso cérebro.